Ao contrário de boa parte da população, eu ainda acredito na Justiça e nas pessoas de bem. Em meio a tantos escândalos nos três poderes, ainda tenho fé naqueles que sonham e fazem a sua parte para que tenhamos um país melhor.
A grande questão é que, infelizmente, está havendo uma inversão de valores. Fazer o certo, exigir os seus direitos, é tida como uma atitude "subversiva"... Peça uma nota fiscal em determinados estabelecimentos... Você recebe um olhar fulminante. Diga ao chefe do Departamento Pessoal que você tem direito a Adicional Noturno e que essa hora é computada como de 52 minutos e 30 seguntos... Assinou sua sentença de morte...
Pois bem, após um ano, finalmente a Justiça do Trabalho (pela qual sou apaixonada) cumpriu o seu dever! Lembro-me como se fosse hoje do dia da audiência:
O preposto da empresa (Chefe do Departamento de Pessoal) sequer olhava para minha cara. Por mim, não fez a menor diferença, além da cara dele não ser das mais bonitas, ele era totalmente anti-ético. Ficou com raiva e levou para o lado pessoal algo estritamente profissional. Meu compromisso sempre foi com o que é certo e com a verdade, ache ruim quem achar.
Os colegas de trabalho, temerosos, diziam: deixa pra lá, a empresa paga o salário em dia.
Sim, obrigação dela, estamos lá no horário, trabalhando, no mínimo, ela tem que nos pagar em dia. Aliás, pagar em dia era a única coisa que ela fazia certo porque se for somar todas as infrações...
Sim, obrigação dela, estamos lá no horário, trabalhando, no mínimo, ela tem que nos pagar em dia. Aliás, pagar em dia era a única coisa que ela fazia certo porque se for somar todas as infrações...
A título de exemplificação:
O responsável pelo pagamento teve a audácia de nos levar para homologar a rescisão num sindicato diverso do da nossa categoria. Isso porque o nosso sindicato legítimo estava fazendo as ressalvas, pois a rescisão tinha sido paga com 17 dias de atraso. O aviso prévio trabalhado exige pagamento no primeiro dia útil ao termino do aviso; Então, levaram o restante dos empregados para outro sindicato que "homologou" as demais rescisões sem as devidas ressalvas.
não nos forneceu a guia do seguro desemprego;
para os felizardos que tiraram "férias", as mesmas foram pagas na METADE do período. Pense aí, passar os primeiros 15 dias de férias mais liso que não sei nem o quê...
As pessoas têm medo e como têm medo! Mas, nesse caso em específico, dava até pra ter mesmo. O chefe do Departamento Pessoal ameaçava, era o que a gente chama aqui de Cavalo Batizado. No dia do pagamento das verbas rescisórias, perguntado pela guia do seguro-desemprego, ele disse: "Não vou dar. Tá achando ruim? Se tiver, não pago sua rescisão hoje. "
Mas mesmo com o temor da grande massa trabalhadora, só no primeiro semestre do ano passado, a empresa já tinha tido 20 reclamações trabalhistas, inclusive por demitir uma empregada gestante. Sinal de que ela não se preocupa nem um pouco com o trabalhador.
O que me deixava mais injuriada é que era uma empresa terceirizada. Terceirização com o Estado, contrato extremamente rentável. Recebia por cada um de nós, aproximadamente, 4 mil reais, advinha quanto nos pagava? Prefiro nem comentar... Dava pra pagar todos os encargos trabalhistas e ainda tinha um lucro fantástico.
Voltando ao dia da audiência...
O Juiz pergunta:
- Tem acordo?
- Não. Diz o presposto.
Breves alegações de minha parte. O Juiz tenta persuadir até conseguir um acordo. Sei que está expresso na CLT que ele deve usar de meios para levar à conciliação, mas daí a afirmar:
"Mas a multa do aviso é perfeitamente dispensável..."
Minha advogada e eu nos entreolhamos com um ar de espanto.
Pára tudo que eu perdi o norte agora! Será que minha CLT é pirata? As súmulas que tem no Vade Mecum estão alteradas? (Apenas pensei...)
- Há acordo? Tenta pela última vez o juiz.
Negativa das partes.
- Prova meramente documental, concluso para julgamento. Disse o Juiz para a servidora que transcrevia a audiência.
Fim da audiência.
Passado algum tempo, veriquei no site do Tribunal: "Reclamação Procedente". Minino, mas esses juízes hein, só faltam matar a gente do coração...hehehe.
Felicidade extrema! Não pelo valor pleiteado na ação, mas por ter o reconhecimento perante a Justiça de um desrespeito que é cometido contra milhares de trabalhadores todos os dias. As pessoas contratam, usam a mão-de-obra, não respeitam os direitos trabalhistas, sugam a energia e depois descartam os empregados sem piedade.
O empregador sempre alega: a carga tributária e os encargos trabalhistas são demasiado altos, porém pressupõe-se que quem abre uma empresa tem capital suficiente para arcar com esses encargos e, como salienta a CLT, com os riscos da atividade econômica. É uma escolha.
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